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sexta-feira, 16 de março de 2018

Óbidos, um lugar pra se perder

Aquele sábado amanheceu chuvoso em Lisboa. Era preciso muita vontade para sair pela rua afora. O vento estava mesmo bem gelado e a chuva associada a ele era tão forte que minha sombrinha  empinou-se algumas vezes para olhar para atrás. Mesmo assim...lá fui eu.

O objetivo do dia era instigador. Depois de muitos anos, finalmente iria conhecer a cidade de Óbidos, que está localizada perto de Lisboa ( 80 km). Um metrô para o primeiro trajeto, saindo da estação da Praça da Espanha, em direção à estação Campo Grande. Chegando ali era hora de pegar um ônibus ( empresa Rodotejo) que nos levaria até o destino do dia, por 15 euros ( ida e volta). Sim! Eu e uma família de japoneses,  que não sabia bem pra onde estava indo, com um mapa na mão e sorrisos continuados no rosto e mesmo sem conhecer uma palavra em português e poucas em inglês ia se comunicando.


Óbidos remonta a um período antes de Cristo e sabe-se que por lá passaram romanos, mouros e visigodos. Mais tarde, a cidade ficou conhecida como o " presente das rainhas" por fazer parte do dote de muitas, como da Rainha Santa Isabel, Filipa de Lencastre, Urraca de Castela, Leonor de Aragão e Leonor de Portugal.


A atmosfera do lugar traz uma certa nostalgia. E, o imaginário da gente voa através do tempo como muitas vezes acontece nos filmes. Tudo ali é real, mas parece que não é, entende? Uma mistura de pensamentos. Uma confusão de épocas. Uma dificuldade de se transpor.


De fato " o caminho se faz na caminhada" saudosa Cora Coralina! Caminhando por onde as pedras vão indicando. E, simplesmente deixando-se ser levado e ir se perdendo, por vontade, em cada esquina. Porque pressente-se que um horizonte abrir-se-á a qualquer momento.


                                       " Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
                           Afinal se coisas boas se vão é para que coisas melhores possam vir..."
                                                                                                       Fernando Pessoa


                        O que diria o poeta, mediante esse todo, visto através de um rasgo de olhar?
                                                                                    Provavelmente diria:
                     " eu sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura".
                                                                                    Sábio Fernando!


 Nesse contexto, o meu olhar corre por um vasto casario, com telhados repetidos com a intenção de marcar o tempo e gravar na memória esse visual que tira o meu fôlego.


Lá do alto, passeando destemida por estreita passarela, não só avisto a grandiosidade do momento, como também a beleza do privilégio. Estar ali, naquele lugar, naquele instante admirando uma remota história, por entre flores de cerejeiras e limões sicilianos, deve ser mesmo um presente da vida! E, a respiração traz um sabor de " Meu Deus, olhe bem onde estás, brasileira"! Em terras portuguesas, com certeza! Um respiro profundo e muita gratidão!


As muralhas tem cerca de 2 km de comprimento e durante o percurso deslumbrantes vistas que nos cativam o olhar. Perspectivas da região, que só se tem lá de cima. E, não posso deixar de comentar. Sabem quem encontrei nesse estreito caminho? eles...a família de japoneses, que trocamos boa comunicação... por repetidos sorrisos, inclinações e cumprimentos!

E a janela se abre. Um ponto de claridade que vem de dentro da alma e vai ao encontro do distante...abrindo-se para o mundo. Esse mundo que, muitas vezes nos intimida, porque é grande demais;  ao mesmo tempo, tão pequeno e breve, que cabe dentro de um só coração. Tudo para lembrar que  " tenho em mim todos os sonhos do mundo". Fernando Pessoa

Um brinde a esse sábado chuvoso. Uma homenagem a todos que se encantam com as sutilezas da vida e com as surpresas que ela pode trazer em si. Um brinde às sensibilidades do ser humano. Feliz de quem as tem. Um brinde a Fernando Pessoa e a todos os poetas anônimos, que carregamos dentro de nós.


                                                                                                                   

                                                                                      Deixo-me, por vontade, me perder
                                                                                      Sei que já me encontro, logo ali.
                                                                                                                             Santè
                                                                                           
                                                                               

                                                                                                          

4 comentários:

Walkiria disse...

Adorei teu relato. Sempre com muita delicadeza repassas teu envolvimento pelos locais que visitas. Parabéns.
Hum! E ainda tudo perfumado por limões sicilianos.
Beijos

Unknown disse...

Obrigada por passar aqui e deixar sempre um recadinho incentivador! Bjs

Patricia Merella disse...

Que linda reportagem amiga! Óbidos é mesmo encantador.O teu jeito delicado e poético ao registrar tuas vivências é especial. Muitos beijinhos!

Unknown disse...

Obrigada, Patrícia. Fico sempre muito feliz quando te encontro aqui! Bjnhos